A IA acelera mais rápido que capacidade humana: as implicações

A revolução da IA não está na tecnologia em si, mas no ritmo inorgânico com que ela avança

A revolução da IA não está na tecnologia em si, mas no ritmo inorgânico com que ela avança

O video “Avoiding AI Dystopia: Yuval Noah Harari and Aza Raskin” foi gravado no evento Commonwealth Club World Affairs of California, no qual Harari e Raskin argumentam que ritmo acelerado da IA avança em uma velocidade incompatível com a capacidade de adaptação humana, que sempre precisou de tempo para assimilar mudanças.

Leia o meu resumo abaixo ou assista o vídeo na íntegra.

https://www.youtube.com/watch?v=ZN24Iyu6YA4


O vídeo apresenta uma conversa com Yuval Noah Harari, historiador e autor de Sapiens e Nexus, e Aza Raskin, cofundador do Center for Humane Technology e pensador em tecnologia e humanidade. Eles discutem os riscos e oportunidades trazidos pelo avanço da inteligência artificial, como os impactos sociais e políticos e os incentivos econômicos que aceleram o desenvolvimento da IA.

A corrida tecnológica da IA está acelerada devido incentivos econômicos. Para empresas, a promessa de vantagens competitivas irresistíveis faz com que o foco seja o progresso contínuo, independentemente dos riscos que possam surgir. Nações inteiras veem a liderança de IA como uma questão de segurança nacional e domínio econômico. Esse ciclo de competição perpetua a ideia de que qualquer desaceleração beneficiará aos rivais, criando uma espécie de “dilema do prisioneiro” global: todos até prefeririam colaborar e desacelerar, mas ninguém quer ser o primeiro a recuar.

Entretanto, Harari destaca que o principal desafio da revolução da IA não está na tecnologia em si, mas no ritmo inorgânico com que ela avança. Ele diz: “A IA é uma entidade que se move em uma velocidade completamente incompatível com a capacidade de adaptação dos seres humanos, que são organismos orgânicos”. Ao longo da história, a humanidade mostrou uma impressionante capacidade de adaptação às mudanças, mas sempre dentro de limites temporais que permitiam a assimilação gradual de novos paradigmas.

A IA rompe essa lógica, criando um abismo entre o progresso tecnológico e a evolução cultural e social. Os humanos precisam de tempo para criar estruturas sociais, culturais e éticas que possam lidar com essas transformações. Sem essa pausa para adaptação, os sistemas democráticos, que dependem de deliberação e consenso, podem ser pressionados a operar em velocidades incompatíveis com sua natureza.

Como exemplo, a IA está transformando a produção cultural com o fenômeno chamado “flippening“. Esse termo refere-se ao momento em que a maior parte do conteúdo cultural, como músicas, textos e imagens, deixa de ser criada por humanos e passa a ser gerada por sistemas de IA. Essa mudança implica que, pela primeira vez na história, a humanidade enfrentará uma cultura predominantemente produzida por máquinas que operam sob lógicas completamente diferentes das humanas. Isso representa uma mudança radical na maneira como os humanos interagem com artefatos culturais.

Em um cenário onde a IA domina a criação de conteúdo, será cada vez mais difícil distinguir o autêntico do manipulado, corroendo a confiança entre as pessoas e nas instituições. Com isso, um dos riscos é o impacto da IA nas relações humanas e na formação de conexões significativas. A IA, com sua capacidade de simular empatia e compreender emoções humanas, pode se tornar uma alternativa atraente às interações humanas, especialmente em um mundo onde solidão e isolamento são problemas crescentes. No entanto, essa “intimidade simulada” apresenta perigos significativos.

Por isso, segundo Harari e Raskin, desacelerar não significa interromper a inovação, mas criar espaço para reflexão e adaptação, permitindo que a sociedade acompanhe as transformações. O futuro da IA dependerá da capacidade humana de equilibrar progresso tecnológico com desenvolvimento ético.