Se você acha que não é uma “pessoa de matemática”, repense.

A ansiedade matemática muitas vezes desencadeia comportamentos de forte evitação.

A ansiedade matemática muitas vezes desencadeia comportamentos de forte evitação.

Compreender como ela se desenvolve pode indicar caminhos para superá-la, abrindo novas possibilidades e interesses.

(Esta é uma tradução livre do artigo com link no final do texto)

Você se considera uma “pessoa de matemática”? Para muitas pessoas, a resposta imediata seria “não”. Porém, poucas refletem sobre os motivos por trás dessa percepção. Embora seja fácil atribuir essa aversão à falta de talento natural ou à preferência por outras áreas, a relação com a matemática frequentemente é moldada por experiências e emoções passadas de formas sutis, muitas vezes imperceptíveis.

Para algumas pessoas, calcular uma gorjeta ou somar o valor das compras no supermercado são atividades triviais. Para outras, essas tarefas aparentemente simples podem desencadear respostas emocionais intensas e negativas. Esse fenômeno, conhecido como ansiedade matemática, é mais comum do que se imagina. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), um estudo global sobre desempenho acadêmico, entre 30% e 60% dos alunos relatam algum nível de ansiedade matemática.

Quem sofre de ansiedade matemática frequentemente apresenta dificuldades em seu desempenho na disciplina – o que não apenas dificulta a aquisição de habilidades essenciais para a vida prática, como planejamento financeiro, mas também restringe o acesso a carreiras em áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Apesar disso, ainda existe debate entre especialistas sobre por que a ansiedade matemática está associada a níveis mais baixos de desempenho.

Duas teorias principais buscam explicar essa ligação. A teoria da competência reduzida sugere que dificuldades iniciais com matemática geram ansiedade. Estudos indicam, sem surpresa, que alunos com histórico de baixo desempenho frequentemente desenvolvem pensamentos, crenças e sentimentos negativos sobre sua suposta inadequação, o que alimenta a ansiedade em situações relacionadas à disciplina.

Por outro lado, a teoria da eficiência do processamento propõe que a ansiedade matemática impacta diretamente o desempenho ao consumir recursos cognitivos. A ideia é que, diante de problemas matemáticos, indivíduos ansiosos experimentam uma resposta emocional exacerbada, criando um cenário de “dupla tarefa” – precisam lidar tanto com a ansiedade quanto com a resolução do problema. Essa divisão de atenção compromete sua eficácia. Pesquisas mostram que a ansiedade matemática afeta funções executivas cruciais, como memória de trabalho, inibição e flexibilidade cognitiva – habilidades essenciais para lembrar fatos, realizar cálculos e resolver problemas.

Ambas as teorias ajudam a esclarecer a relação entre ansiedade e desempenho matemático, mas não abordam os impactos a longo prazo.

Para entender mais profundamente a conexão entre ansiedade e habilidade matemática, é necessário considerar a evitação. Comportamentos de evitação são características comuns em transtornos de ansiedade, como transtorno de ansiedade social e agorafobia. Pessoas com transtorno de ansiedade social evitam situações sociais, enquanto indivíduos com agorafobia frequentemente fogem de cenários específicos que causam angústia, como multidões ou espaços fechados.

De maneira similar, a ansiedade matemática frequentemente leva à evitação. Essa estratégia proporciona alívio temporário, permitindo que os indivíduos evitem a fonte de seu desconforto – a matemática. No entanto, a repetição dessa prática impede o desenvolvimento de habilidades, ampliando a distância entre a capacidade potencial e o desempenho real, reforçando o ciclo de baixo desempenho.

Imagine um adolescente que inicialmente demonstra interesse por matemática, mas que começa a tirar notas baixas. Com o tempo, seu entusiasmo dá lugar à ansiedade, à medida que cada revés aprofunda seu sentimento de inadequação. Quando a matemática surge em sala de aula ou como tarefa de casa, ele sente crescente tensão e dúvida. Esse desconforto alimenta um ciclo de retroalimentação negativa: quanto maior sua ansiedade, menos ele se engaja, resultando em uma compreensão mais fraca do material e em novas quedas no desempenho. Cada fracasso reforça a crença de que “não é uma pessoa de matemática”.

Como o exemplo ilustra, experiências negativas iniciais, aparentemente pequenas, podem ter consequências duradouras. Reconhecer os primeiros sinais de ansiedade matemática e evitação é essencial para interromper esse ciclo. Um estudante pode começar a sentir nervosismo ou estresse ao lidar com matemática ou até mesmo ao antecipar uma tarefa relacionada. Sintomas físicos, como aumento da frequência cardíaca ou mãos suadas, podem acompanhar esses sentimentos. Para alguns, o desconforto começa assim que entram na sala de aula, dificultando a aprendizagem.

Com o agravamento da ansiedade matemática, padrões mais evidentes de evitação podem surgir. Procrastinação é comum, com estudantes adiando tarefas matemáticas para evitar o desconforto antecipado, o que resulta em trabalhos incompletos e notas baixas. Em casos mais graves, podem faltar às aulas, abandonar cursos que exigem matemática ou até mudar de área no ensino superior para evitar disciplinas relacionadas. No mercado de trabalho, essa evitação pode levar alguém a rejeitar promoções que envolvam gerenciamento financeiro ou análise de dados.

Quando educadores, pais ou mentores identificam e abordam esses padrões precocemente, é possível prevenir impactos duradouros no crescimento pessoal, sucesso acadêmico e oportunidades de carreira. No entanto, intervenções atuais para reduzir a ansiedade matemática têm mostrado resultados limitados, com melhorias modestas nos níveis de ansiedade e desempenho.

Uma abordagem promissora é a adaptação de elementos da terapia cognitivo-comportamental (TCC), amplamente eficaz no tratamento de outros transtornos de ansiedade. A TCC ensina as pessoas a identificar e modificar padrões de pensamento negativos que alimentam a ansiedade, além de incluir exposição gradual a situações temidas, reduzindo a evitação e aumentando a confiança ao enfrentar desafios. Atualmente, a maioria das intervenções para ansiedade matemática foca apenas em pensamentos e emoções, ignorando aspectos comportamentais.

Incorporar elementos comportamentais da TCC pode ajudar a abordar diretamente a evitação matemática. Embora mais pesquisas sejam necessárias, essa abordagem tem potencial para interromper o ciclo de ansiedade e baixo desempenho, tratando a evitação como um comportamento modificável.

Enquanto estratégias baseadas em evidências científicas são desenvolvidas, estudantes e adultos que enfrentam ansiedade matemática podem adotar métodos simples para reconstruir sua confiança. Reintroduzir a matemática em um ambiente seguro, sem pressão de notas ou prazos, é uma estratégia eficaz.

Começar com atividades simples – revisitando conceitos básicos ou explorando quebra-cabeças matemáticos – pode tornar a matemática mais acessível e até divertida. Alguns minutos diários de prática com problemas manejáveis ajudam a reduzir a sensação de intimidação ao longo do tempo, tornando a matemática uma parte natural da rotina.

Outra estratégia útil é integrar a matemática ao cotidiano em contextos significativos, como elaborar um orçamento ou cozinhar, onde medições e proporções são necessárias. Tarefas práticas e de baixo risco favorecem a curiosidade, em vez de focar no desempenho, promovendo confiança ao longo do tempo.

Embora emoções negativas e comportamentos de evitação possam criar um ciclo vicioso, esse padrão pode ser rompido com intervenção adequada. Ao desafiar a evitação e reconsiderar a relação com a matemática, é possível abrir portas antes consideradas inacessíveis. Para aqueles dispostos a enfrentar o desafio com paciência e autocompaixão, a matemática pode até se tornar uma fonte de realização e satisfação.

Fonte: https://psyche.co/ideas/if-you-think-you-are-just-not-a-math-person-then-think-again