Conectando os pontos

Você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los olhando para trás

Você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los olhando para trás

Um artigo recente do Wall Street Journal chamou minha atenção ao discutir um fenômeno interessante, o qual lembrei uma palestra do Steve Jobs. Frequentemente, as exigências de pais e mães podem parecer sem sentido no momento em que são feitas. No entanto, o verdadeiro valor dessas demandas só se revela no futuro, quando conseguimos “conectar os pontos” e entender como essas experiências influenciaram nossas trajetórias.

Gregg Opelka oferece um exemplo marcante neste artigo do WSJ. Aos 12 anos, ao abrir sua máquina de escrever na noite antes do início das aulas, notou que sua mãe havia coberto todas as teclas com fita isolante preta, ocultando as letras. Ao questioná-la, ela explicou que isso o ajudaria a aprender a localização das letras mais rapidamente, já que seus olhos deveriam focar no texto, e não nas teclas.

Ele relata que a sabedoria de sua mãe se provou acertada. Em poucos dias, ele já dominava o teclado QWERTY com habilidade, destacando-se em sua classe. Esse aprendizado precoce tornou-se uma vantagem econômica anos mais tarde, quando entrou na Lawrence University na década de 70. Sua reputação como datilógrafo rápido se espalhou, e com os prazos dos trabalhos se aproximando, muitos colegas o pagavam para digitar seus textos. Na época, a datilografia era uma habilidade rara entre os homens.

Após sua formatura, ele continuou o trabalho paralelo e fundou a Myopic Snail Typing Co., uma empresa de serviços de datilografia. O negócio prosperou bastante, especialmente com o lançamento do IBM Selectric III, um marco tecnológico que permitia a digitação em diferentes idiomas e fontes. Um dos seus maiores trabalhos foi digitar uma tese de doutorado de 450 páginas em francês, que exigia o uso extensivo de acentos. Ele desenvolveu um mercado vasto e lucrativo para seus serviços. Em conclusão, ele afirma que as bases estabelecidas por sua mãe foram essenciais para seu sucesso e adaptação, algo que ele reconheceu somente mais tarde.

Jobs conectando os pontos

Esse conceito de “conectar os pontos” foi central na famosa palestra de Steve Jobs na Universidade de Stanford. Ele relembrou uma experiência aparentemente insignificante durante seu breve período no Reed College, que teve um impacto duradouro em sua carreira e na indústria da tecnologia. Depois de desistir oficialmente do curso, ele optou por permanecer no campus como ouvinte e uma das disciplinas que escolheu foi a caligrafia. Na época, essa decisão parecia ser movida apenas por interesse pessoal, sem uma aplicação prática imediata. No entanto, essa aula de caligrafia, ministrada com grande paixão e atenção aos detalhes técnicos, encantou Jobs pela beleza das letras e pela complexidade da tipografia, incluindo o espaçamento entre caracteres e o uso de diferentes tipos de fontes.

Essa paixão por caligrafia e tipografia se provou crucial anos mais tarde, quando Jobs liderou o design do primeiro Macintosh na Apple. Lembrando-se das lições de caligrafia que aprendeu, ele insistiu que o Macintosh deveria ter um sistema de fontes sofisticado e visualmente atraente, uma novidade entre os computadores da época. Essa decisão foi fundamental para diferenciar o Macintosh de seus concorrentes, introduzindo uma estética visual que valorizava a tipografia e o design gráfico no mundo da computação pessoal.

Jobs diz textualmente na palestra: “Se eu nunca tivesse deixado a faculdade, eu nunca teria entrado na aula de caligrafia, e os computadores pessoais poderiam não ter a maravilhosa tipografia que eles têm. Claro que era impossível conectar os pontos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas ficou muito, muito claro olhando para trás dez anos depois. De novo: você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar em seu futuro. Você tem que confiar em alguma coisa. Seu Deus, destino, vida, karma, seja o que for. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em um momento vai ter dar confiança para seguir seu coração, mesmo que te leve para um caminho diferente do previsto, e isso fará toda a diferença”.

LINK WSJ: https://www.wsj.com/articles/my-mom-taught-me-real-men-can-type-typewriter-college-term-paper-1d7698ce

LINK STEVE JOBS: https://www.youtube.com/watch?v=45xrq0wpqv4