É possível. Corra. Dá tempo.
Dois roteiros de filmes, aparentemente distintos e sob clichês de Hollywood, trazem mais reflexões do que aparentam. “Quebrando a Banca” e “A Vida Secreta de Walter Mitty” exploram temas que atravessam a linha tênue entre a vida ordinária e a extraordinária, com aprendizados feitos de alegrias e tristezas. Por meio de histórias marcadas por escolhas e transformações, ambos filmes revelam que o extraordinário é alcançável, desde que saibamos defini-lo.
Em “Quebrando a Banca“, Ben Campbell é um jovem talentoso, aluno do MIT, com notas impecáveis e aspirações para Harvard Medical School. Porém, durante a entrevista de admissão, ele é desafiado a apresentar algo que o diferencie dos outros candidatos. “O que você fez de brilhante?” é a pergunta que o paralisa. Apesar de ser um gênio da matemática, Ben percebe que suas realizações acadêmicas não são suficientes para impressionar. Para pagar os altos custos da universidade e provar a si mesmo, ele acaba entrando em um grupo de contadores de cartas, liderado por seu professor. Sua vida se transforma em uma combinação de glamour, adrenalina e risco, mas também de perigos concretos, como confrontos com bandidos e policiais nos cassinos de Las Vegas.
Já em “A Vida Secreta de Walter Mitty“, conhecemos um homem comum que trabalha no setor de negativos de uma revista prestes a fechar. Walter vive preso em uma rotina sem brilho e enfrenta uma dificuldade ainda mais frustrante: ele não consegue criar um perfil atraente em um site de relacionamento porque sente que nunca fez nada de relevante ou interessante na vida. Sua imaginação, então, torna-se um refúgio: ele sonha com grandes aventuras que nunca teve coragem de realizar. Quando um negativo crucial para a última edição desaparece, Walter é obrigado a embarcar em uma busca ao redor do mundo para encontrá-lo. Sua jornada o leva a locais como a Islândia, onde ele enfrenta uma tempestade de cinzas de vulcão e anda de skate em alta velocidade por uma estrada deserta, e ao Himalaia, onde precisa escalar montanhas para encontrar o fotógrafo que possui as respostas que ele busca.
O primeiro ponto comum entre essas narrativas é o conflito interno: tanto Ben quanto Walter começam suas jornadas sentindo-se comuns ou insignificantes. Apesar de suas habilidades, eles acreditam que falta algo essencial em suas vidas. Essa percepção reflete a busca universal por significado e reconhecimento, algo que muitos de nós enfrentamos em algum momento. Não é incomum olhar para trás e pensar no que deixamos de fazer por insegurança ou medo de falhar. Mas como as histórias mostram que sempre há tempo para tentar, a insegurança inicial desses personagens conecta-se à busca por algo maior que os motive a agir.
A jornada para o extraordinário é o que impulsiona os dois personagens. Ben se arrisca ao entrar no mundo dos cassinos e da contagem de cartas, enquanto Walter troca a segurança da rotina pelo desconhecido em uma aventura global. Em ambos os casos, é o ato de tomar o primeiro passo que abre as portas para novas experiências e transformações. Esse primeiro passo é um reconhecimento de que os sonhos que antes pareciam distantes merecem ser perseguidos com determinação.
O caminho de ambos é marcado por autodescoberta. Ben aprende que a ganância e os excessos podem afastá-lo de quem ele realmente é, enquanto Walter descobre que a coragem não é um atributo distante, mas algo que cresce com cada pequeno ato de ousadia. Ambos enfrentam dificuldades: Ben lida com traições, perigos e as consequências de suas escolhas, enquanto Walter encara desafios reais em ambientes hostis. Essas adversidades mostram que o sofrimento faz parte do crescimento.
Além disso, ambos os filmes destacam que sempre é possível reescrever sua história. Nenhum dos personagens está preso a uma vida predeterminada. Walter descobre o extraordinário mesmo depois de anos de monotonia, e Ben percebe que, ao contrário do que ouviu do oficial de admissões, é capaz de realizar algo brilhante e surpreendente.
E a sua vida: é ordinária ou extraordinária?
Essa mensagem é um convite para refletirmos: nunca é tarde demais para olhar para os sonhos que deixamos para trás e perguntar se ainda podemos dar a eles uma chance.
Não é necessário que esses sonhos sejam cinematográficos ou inconsequentes como muitas vezes vemos nos filmes. Eles não precisam envolver grandes riscos ou mudanças radicais. Fazer algo extraordinário pode significar simplesmente se abrir para novas possibilidades que antes pareciam assustadoras: viajar para um lugar que sempre desejou, mudar de emprego ou estilo de vida que parecia distante, ou ainda se reconectar com mais paixão com pessoas que reconquistar. São essas pequenas decisões, feitas com intenção e coragem, que podem transformar nossas vidas de maneiras significativas.
O extraordinário não está fora do alcance de ninguém. Ele pode estar em passos simples e conscientes em direção a algo que nos faça sentir vivos e conectados. A coragem de arriscar por lugares, situações e pessoas que antes nos intimidavam é o que realmente importa. Quando nos permitimos ousar, mesmo que de forma discreta, encontramos a oportunidade de crescer e construir uma história única. No fim, o extraordinário é menos sobre grandiosidade e mais sobre viver de forma autêntica e alinhada com nossos verdadeiros desejos. Corra. Dá tempo.