Vamos voltar para a velha e boa internet

Chega de grandes plataformas nas quais tem todo mundo, mas não tem ninguém

Chega de grandes plataformas nas quais tem todo mundo, mas não tem ninguém.

Carl Newport conta que assistiu o time de beisebol Washington Nationals jogar sua primeira partida de treinamento da temporada 2025. Enquanto seguia com as atividades do dia, ele ouvia a transmissão pelo rádio e, ao mesmo tempo, acompanhava o blog comunitário Talk Nats. Os moderadores do site haviam publicado um texto sobre a partida, e, conforme o jogo se desenrolava, torcedores começaram a se reunir nos comentários para discutir os lances em tempo real.

Grande parte da conversa se concentrava em jogadas específicas. Um dos participantes comentou: “Ferrer foi brilhante”, logo após o arremessador José Ferrer eliminar dois rebatedores. Outro respondeu com humor: “Parece que tiramos a Ferrari da garagem”. Também surgiam piadas ao longo do jogo, como a de alguém que escreveu, no começo da partida: “Quem eliminar é cortado”, além de discussões mais amplas sobre as expectativas para a temporada.

Conforme os comentários avançavam, ficava claro que alguns participantes já se conheciam, enquanto outros estavam interagindo pela primeira vez. Nos instantes finais do jogo, um torcedor comentou que assistia direto de uma região do Canadá que havia recebido quase um metro de neve. Outro respondeu dizendo que já havia visitado aquele lugar e que a experiência havia sido incrível. Ao final do jogo, que não passou de uma partida de pré-temporada sem grandes acontecimentos, o post já havia recebido mais de 540 comentários.

Carl Newport diz já havia escrito sobre o Talk Nats em 2023, em um artigo publicado na revista The New Yorker, intitulado “Não precisamos de outro Twitter“. Na época, ele refletiu sobre o lançamento da plataforma Threads, criada pela Meta, mas usou o momento para defender uma ideia mais ampla: talvez tenha sido um erro estruturar a internet ao redor de um número pequeno de plataformas privadas gigantescas, que concentram centenas de milhões de usuários simultaneamente.

Ele explica que forçar milhões de pessoas a participar da mesma conversa compartilhada é algo antinatural. Para que isso funcione, é preciso uma curadoria agressiva, o que acaba gerando um nível extremo de engajamento, que, por sua vez, deixa todos exaustos e irritados. Essa lógica de concentração só continua existindo porque é altamente lucrativa, mas não necessariamente saudável.

Por outro lado, espaços menores e especializados, como o Talk Nats, oferecem algo mais próximo da proposta original da internet: um ambiente voltado para a conexão e a descoberta, no qual um torcedor do Canadá pode passar uma tarde tranquila trocando ideias com outros fãs sobre um jogo despretensioso na Flórida.

Como Newport defende, essa é a internet que realmente traz alegria, completamente diferente da sensação de paranoia ou apatia provocada pelas grandes plataformas como X e TikTok, onde tudo parece otimizado de forma fria para capturar a atenção dos usuários sem descanso. Essas ideias são ainda mais verdadeiras agora.

Ao final da experiência, Newport afirmou que havia se sentido bem, sem a irritação ou o desânimo que costumam surgir após o uso das grandes redes sociais. Pelo contrário, terminou o dia animado e com a sensação de ter feito parte de algo simples e agradável.

Talvez seja hora de buscar novamente esse modelo mais independente e comunitário, onde a internet possa voltar a ser um espaço de interações genuínas, leves e prazerosas. Chega de grandes plataformas nas quais tem todo mundo, mas não tem ninguém.

Leia na integra e original completo: https://calnewport.com/back-to-the-internet-future/