O lado invisível da IA: o trabalho humano por trás do ChatGPT

Documentário da BBC News detalha os segredos da OpenAI

Documentário da BBC News detalha os segredos da OpenAI

A inteligência artificial conquistou o mundo com a promessa de oferecer respostas instantâneas para quase qualquer pergunta, simulando conversas com um nível de fluidez que impressiona usuários ao redor do planeta. O ChatGPT, um dos principais expoentes desse avanço, se tornou sinônimo dessa “mágica”. Porém, por trás do encantamento há uma engrenagem invisível movida por trabalho humano precário e sofrimento psicológico. É o que revela o documentário da BBC News Brasil inspirado no livro Empire of AI, de Karen Hao, que expõe os bastidores pouco discutidos da indústria da IA.

O ponto de partida da investigação é um alerta: as tecnologias que operam “na nuvem”, longe dos olhos do público, só se tornaram viáveis graças à força de trabalho terceirizada empregada em condições precárias. E ao contrário do que se imagina, não são engenheiros do Vale do Silício que executam as tarefas mais árduas. Karen Hao foi até o Quênia para ouvir trabalhadores que tiveram como função principal classificar conteúdos gerados pela inteligência artificial, muitos deles de teor absolutamente perturbador.

Esses moderadores foram contratados para revisar textos que continham desde erotismo consensual até descrições de abuso sexual, pornografia infantil, discurso de ódio e zoofilia. A missão era determinar o que deveria ser aprovado ou excluído dos datasets que treinam os modelos de IA. O processo é fundamental para ensinar ao algoritmo o que pode ou não ser reproduzido ao interagir com o público. A exposição prolongada a esse tipo de conteúdo, entretanto, cobrou um preço alto desses trabalhadores, afetando diretamente sua saúde mental.

Um dos casos emblemáticos apresentados é o de Mofat, ex-moderador que trabalhou diretamente em tarefas contratadas pela OpenAI, empresa criadora do ChatGPT. Mofat passou tantas horas revisando conteúdos de abuso sexual que sua personalidade se transformou profundamente. Desenvolveu sintomas de trauma e sequer conseguia explicar à própria esposa o que enfrentava no trabalho. O impacto psicológico foi tão severo que ele abandonou a função e hoje é um ativista pelos direitos dos trabalhadores da moderação de conteúdo. Seu nome chegou à lista das cem pessoas mais influentes em inteligência artificial elaborada pela revista Time, onde também figura Sam Altman, presidente da OpenAI.

Outros entrevistados reforçam que as condições oferecidas pelas empresas de tecnologia para quem modera conteúdo são precárias. Além do sofrimento mental, faltam medidas de segurança, acompanhamento psicológico e protocolos de proteção adequados para um trabalho que, essencialmente, confronta o indivíduo com o que há de mais degradante na produção humana.

O aspecto econômico também escancara a desigualdade: mesmo com alta escolaridade e acesso à internet, esses trabalhadores quenianos recebem o equivalente a um salário mínimo, mesmo laborando à noite, nos fins de semana e sob enorme carga emocional. As empresas de IA identificaram nessa combinação – educação formal, conexão digital e pobreza – a fórmula ideal para recrutar pessoas dispostas a realizar essas tarefas por valores irrisórios.

Em resposta às críticas, a OpenAI limitou-se a apontar um post de Sam Altman na plataforma X, publicado antes do lançamento do livro, em que o executivo afirma que existem muitos livros sendo escritos sobre ele e sobre a empresa, mas que nenhum será totalmente preciso, especialmente porque algumas pessoas estariam “determinadas a distorcer os fatos”.

Por fim, o documentário propõe uma reflexão mais ampla sobre o papel dessas grandes empresas de tecnologia no cenário global. Karen Hao sugere que as companhias de IA devem ser compreendidas como os novos impérios: conglomerados que concentram poder econômico e político em escalas tão monumentais que poucas instituições ainda são capazes de limitá-los ou regulá-los de forma efetiva. Elas não apenas moldam o futuro da tecnologia, mas também exploram, silenciosamente, uma cadeia de trabalho invisível e brutal, que sustenta aquilo que o público, por ora, enxerga apenas como uma “mágica”.

Fontes:

Video da BBC News: https://www.youtube.com/watch?v=HEwY0WKeKjc

Livro Empire of IA: https://www.amazon.com.br/Empire-AI-Dreams-Nightmares-Altmans/dp/0593657500/


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