O problema nas empresas é a vagueza

A falta de clareza pode levar a interpretações equivocadas

A falta de clareza pode levar a interpretações equivocadas.

A filosofia estuda há muito tempo o conceito de vagueza, que se refere à imprecisão inerente a muitas palavras e expressões do cotidiano. Um exemplo clássico é o paradoxo do monte: se começarmos a remover grãos de areia de um monte, em que ponto ele deixa de ser um monte? Essa dificuldade em determinar limites precisos mostra como certos termos são, por natureza, vagos. Palavras como “alto”, “velho” ou “rico” exemplificam essa característica no dia a dia. O que significa ser “forte”? Dependendo do contexto, a definição varia significativamente, o que torna a comunicação ambígua.

No dia a dia, essa vagueza não causa problemas graves. Quando dizemos que alguém é “inteligente” ou “bonito”, geralmente o contexto nos ajuda a entender o significado. No entanto, a imprecisão dessas palavras causa mal-entendidos quando as expectativas ou percepções dos envolvidos são diferentes. Essa falta de clareza faz parte da linguagem natural, que não foi projetada para ser perfeitamente precisa, mas para ser flexível e adaptável a diferentes situações.

Nas empresas, o problema da vagueza na comunicação é mais impactante. Quando decisões importantes precisam ser tomadas, a falta de clareza pode levar a interpretações equivocadas e a uma execução desalinhada. Por exemplo, um gerente diz que a equipe precisa “ser mais ágil”. Sem uma definição clara do que isso significa, cada pessoa interpreta de maneira diferente, resultando em ações que não convergem para um objetivo comum.

Em reuniões de planejamento estratégico, termos como “inovar” ou “ser agressivo” são frequentemente utilizados sem explicações detalhadas. Essa falta de especificidade leva áreas inteiras a trabalhar com entendimentos distintos, gerando conflitos e desperdício de recursos. Da mesma forma, na avaliação de comportamentos, feedbacks como “precisa ser mais proativo” ou “demonstrar liderança” carecem de clareza. Sem exemplos concretos ou orientações específicas, os colaboradores ficam confusos sobre como agir.

A comunicação interpessoal também sofre. Expressões como “documentar melhor” ou “com menos detalhes” são subjetivas e interpretadas de formas variadas. Enquanto um líder espera que uma tarefa “assim que possível” seja concluída em horas, um funcionário pode entender alguns dias. Dizer apenas “não gostei” causa desentendimentos e frustrações.

Filosoficamente, reconhecemos que a vagueza é uma característica inerente da linguagem humana e não dispomos de soluções práticas que a eliminem completamente. No entanto, podemos nos esforçar para minimizar seus efeitos negativos no ambiente empresarial. 

Estar atentos ao uso de termos vagos ao dar instruções ou feedbacks pode ajudar. Ao invés de orientar alguém a “ser mais proativo”, sugira: “Gostaria que apresentasse duas novas ideias para este processo até o final do mês”. Além disso, realizar um check de entendimento — confirmando com o interlocutor se a mensagem foi compreendida como esperado — pode evitar mal-entendidos. Ao cultivar uma cultura de comunicação clara e direta, reduzimos os riscos associados à vagueza e melhoramos a eficiência na organização. Opa. Cometi o mesmo erro: o que exatamente eu quis dizer com “eficiência”?