Não pense fora da caixa, pense em outra

Limitar as pessoas aumenta a criatividade

Limitar as pessoas aumenta a criatividade

A expressão “pense fora da caixa” já deve ter sido utilizada por você como uma forma de incentivar as pessoas a pensarem de maneira diferente. Contudo, o consultor Stephen Shapiro, autor do livro Best Practices are Stupid (As melhores práticas são burras), desafia essa ideia amplamente difundida. Ele utiliza uma analogia poderosa para ilustrar o pensamento criativo e a gestão.

Muitas empresas acreditam que, para serem inovadoras, precisam permitir que as pessoas pensem sem restrições, eliminando estruturas rígidas de pensamento. Contudo, Shapiro alerta para os perigos dessa abordagem, que pode, paradoxalmente, prejudicar a criatividade. Ele exemplifica essa visão com um experimento realizado com um grupo de executivos.

O exercício do tijolo

No primeiro exercício, Shapiro pediu aos executivos que listassem, em um minuto, ideias sobre o que poderia ser feito com um tijolo, sem qualquer limitação — a famosa abordagem de “pensar fora da caixa”. A maioria das respostas foi convencional, incluindo sugestões como construir uma parede, usar como peso de papel ou como apoio de porta.

No segundo exercício, os participantes foram convidados a escolher um ambiente específico, como uma cozinha, e listar usos para o tijolo dentro desse contexto. Em apenas um minuto, surgiram ideias mais criativas, como usar o tijolo como apoio para panelas ou como ferramenta para achatar massas de macarrão na cozinha. A experiência demonstrou que a introdução de um limitador — o contexto da cozinha — levou a soluções mais inovadoras.

“À primeira vista, isso parece contraditório”, afirma Shapiro, “mas, ao impor limites, podemos aumentar a criatividade“.

A estrutura estimula a inovação

Shapiro também apresenta um exemplo do ambiente corporativo. Um de seus clientes estava buscando maneiras de expandir o mercado para um produto considerado uma commodity. Inicialmente, os funcionários eram estimulados a responder uma pergunta ampla e genérica: “Como podemos adaptar nosso produto para novos mercados?” Contudo, as sugestões obtidas eram, em sua maioria, banais, simples e repetitivas.

Para resolver esse problema, foi criada uma lista de 200 setores industriais, um para cada dia útil do ano. A cada dia, os gerentes escolhiam um setor específico, como pedágio, saúde ou bibliotecas, para realizar sessões de brainstorming focadas em identificar oportunidades para o produto nesse mercado. Como resultado, a abordagem mais estruturada gerou ideias significativamente mais criativas e relevantes.

Esse exemplo reforça a conclusão de Shapiro: eliminar completamente a rigidez em nome da inovação pode ter o efeito oposto ao desejado. Paradoxalmente, uma maior estrutura de pensamento frequentemente promove maior criatividade.

Uma reflexão para gestores

Por isso, fica a reflexão: como você, gestor, desafia seus colaboradores? Você os convida a pensar fora da caixa de maneira irrestrita, ou oferece uma nova caixa para estimular sua criatividade? A dica de Shapiro é clara: não pense fora da caixa, pense em outra caixa.

Referências
SHAPIRO, S. As melhores ideias são estúpidas. Editora Casa das Letras, 2012.
SHAPIRO, S. Freedom can limit innovation. Stephen Shapiro Website.
ÉPOCA NEGÓCIOS. Transforme um funcionário inerte em inovador.