Nem sempre o autointeresse é ruim
Para ser bem sucedido nas situações competitivas, é importante entender os reais incentivos do outro jogador a fim de prever as reações dele. Neste sentido, é muito provável que o seu adversário busque maximizar os próprios objetivos. Chamamos esse propósito de “autointeresse”, do inglês self-interest.
O autointeresse não é sinônimo de “egoísmo” e não necessariamente significa “eu mais, você menos”, ou “eu ganho, você perde”. Autointeresse significa focar nos próprios ganhos, o que é um desejo legítimo. O outro pode ganhar mais, eu não me importo, desde que eu ganhe o que eu quero, como um preço barato, ser promovido, mais dinheiro, poder etc. Meu autointeresse não está vinculado à sua perda — podem existir o ganha-ganha e autointeresse ao mesmo tempo. Não estamos falando de sabotagem ou métodos destruidores; não há nada de imoral em buscar os próprios objetivos.
Pode parecer paradoxal, mas o autointeresse também beneficia os outros. Popularizado por Adam Smith, há uma corrente econômica que diz que a sociedade como um todo faz avanços porque os indivíduos maximizam os próprios objetivos (autointeresse).
James Miller apresenta um exemplo caricato de como o autointeresse ajuda todo mundo e induz à colaboração. Em seu livro Game theory at work: how to use game theory to outthink and outmaneuver your competition, ele escreve assim:1
No mundo da Teoria dos Jogos não existe clemência ou compaixão; apenas autointeresse. A maioria das pessoas se preocupa apenas com elas, e todo mundo sabe e aceita isso. O seu empregador nunca vai te dar um aumento porque “é uma coisa legal a fazer”. Você conseguirá o aumento se convencê-lo de que isso serve aos interesses dele.
Mesmo quando todos agem de forma cruel e competitiva, a lógica da Teoria dos Jogos ensina que as pessoas egoístas devem cooperar e tratar os outros com lealdade e respeito. Você poderia me perguntar, por exemplo: “Ler este livro irá me ajudar a ganhar dinheiro?”. Uma resposta genuína em Teoria dos Jogos seria: “Uma vez que você já comprou este livro, então eu realmente não me importo com o benefício que você terá ao lê-lo”.
Na verdade, você provavelmente já comprou este livro ao ler a capa, a orelha, o índice e o primeiro parágrafo da introdução. Talvez eu devesse apenas me esforçar nessas pequenas partes do livro e no resto apenas “encher linguiça”: ser verborrágico e repetitivo apenas para deixar o livro grosso o suficiente para custar mais caro. Afinal das contas, eu tenho mais coisas importantes na vida para fazer do que escrever para o prazer de pessoas que nunca encontrei.
É claro, eu gosto de dinheiro, e quanto mais cópias do livro eu vender, mais dinheiro vou ganhar. No entanto, se você gostar do livro, poderá sugerir a um amigo, que comprará uma cópia. E, se eu escrever outro livro, você estará mais propenso a comprá-lo se gostar deste aqui.
Assim, por razões puramente egoístas, eu me esforço para oferecer a você informações valiosas.
Além disso, a editora do livro tem o direito contratual de rejeitar meu manuscrito. Como ela é uma empresa de longos anos no negócio de publicações, seria afetada negativamente se publicasse um conteúdo imbecil numa boa embalagem. Por isso, se eu falhar em colocar algo de valor neste livro, a editora vai pedir de volta o dinheiro que me adiantou. Então, saiba que se você acabar gostando deste livro, não será por que eu escrevi com o propósito de deixá-lo feliz.
Eu o escrevi para maximizar meus rendimentos, não me importo com sua satisfação. É o sistema capitalista sob o qual os livros são produzidos que criam incentivos para eu seriamente me esforçar a escrever um livro que os consumidores vão gostar e ter benefícios ao ler.
Esta postura irônica de James Miller pode ser um tanto caricata ou exagerada, mas representa bem como o autointeresse do escritor fornece benefícios aos leitores e à editora. Como moral da história, você precisa manter em mente que, na maioria dos jogos, seus parceiros e concorrentes estão pensando neles mesmos. Isso tem duas implicações: primeiro, você precisa saber exatamente qual é a motivação deles; segundo, o autointeresse dele não é necessariamente ruim e pode beneficiar a você.