As discussões sobre a IA ser ou não ser mais inteligente que o humano estão em destaque, mas é crucial questionar: qual “ser humano” estamos nos referindo? Eu, você, seu vizinho, meu chefe, Einstein, Obama, quem seríamos nós?
Essa provocação serve para lembrar que a espécie humana possui uma faculdade de inteligência superior aos animais, mas essa possibilidade não garante igualdade de habilidades. Não é raro afirmamos que “fulano é mais inteligente que outro” ou que “fulano é burro como uma porta“. Existem gradações na inteligência “humana”. Assim, a IA é mais inteligente do que o indivíduo mais brilhante do mundo, do mediano ou até daquele que não teve acesso à educação e não se desenvolveu?
Para complicar, é relevante lembrar que a métrica da inteligência têm sido objeto de debates ao longo da história. Podemos criticar o tradicional teste de QI de Binet, pois ele avalia apenas uma faceta da faculdade humana, como o raciocínio lógico, compreensão verbal, memória e habilidades matemáticas. Os críticos do QI enaltecem a conhecida Inteligência Emocional, popularizada por Goleman. Tão antiga quanto essa discussão é a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner, que inclui diferentes tipos de inteligência, como linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal, interpessoal e naturalista. Assim, é possível ser excelente em algumas dessas enquanto ser medíocre em outras.
Portanto, questionar se a IA, mesmo em sua forma mais avançada, será mais inteligente do que o ser humano apresenta um problema em sua própria formulação. Há duas motivos para este equívoco, como mencionado. Primeiro, o SER HUMANO não é um ser único; existe uma variação enorme entre os mais e menos capazes, tornando as generalizações inapropriadas. Segundo, o termo MAIS INTELIGENTE carece de significado concreto, uma vez que a inteligência se manifesta por meio de uma série de habilidades distintas, o que também nos impede de realizar generalizações.
Assim, concordo da visão de pesquisadores sensatos que consideram a IA como um sistema “ultra-especialista”, comparável a uma habilidade e não inteligência. Por exemplo, uma IA especializada em revisar textos com maestria supera qualquer ser humano nessa tarefa. Se você prefere chamar isso de inteligência, fique a vontade, mas saiba da vaguidade dessa afirmação. Outros exemplos são IAs capacitadas para cálculos complexos em múltiplos cenários, criar textos, roteiros e planos baseados em certos parâmetros, etc.
Por fim, ainda que alguns afirmem que a IA jamais será mais inteligente do que os humanos em criatividade, isso pode depender… Se existir uma IA que componha versos ou música de forma excepcional, e alguém negar isso, eu repetirei o mantra. Para essa especialidade, a IA é inegavelmente muito mais criativa do que eu, que me considero um desastre musicalmente. Cada um na sua e seus julgamentos. Nota: eu disse que nestas situações a IA é mais criativa que eu, e não inteligente