O que fazer com a angustia da espera

A saída é enrolar o tempo, em movimento

A saída é enrolar o tempo, em movimento

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A espera tem um peso que nos deixa corcundas. Você está na recepção do hospital enquanto um ente querido está em cirurgia: você não sabe quanto tempo levará e se a intervenção será bem-sucedida. Angústia. Você aguarda a resposta do vestibular, que só sairá daqui a trinta dias, sem garantia de sucesso. Aguenta coração. Você espera notícias de alguém amado que não respondeu o whatsapp, atualizando o celular numa ansiedade frenética. Cada segundo se arrasta. Uma tortura.

Nessas horas, a impotência é absoluta. O que mais nos angustia não é só a espera em si, mas o fato de que não há nada a fazer. Não controlamos o tempo ou o desfecho. Não há como acelerar o tempo nem manipular o resultado. Tudo o que nos resta é esperar. Esperar, quando o coração está aflito, é um dos grandes desafios da vida.

O que fazer? Eu me lembro de um teatro infantil no qual meus pais me levaram quando eu tinha uns cinco ou seis anos. Na trama, havia um grupo de filhotes de animais. Viviam felizes, mas precisaram fazer um pedido ao Leão, o rei da selva, a autoridade que detinha o poder da resposta. Reuniram coragem, foram até ele, falaram com respeito e esperança. Mas o Leão, com sua voz grave e cheia de mistério, respondeu que só poderia dar uma resposta mais tarde.

E foi aí que a angústia começou. O que fazer enquanto a resposta não vem? Como aguentar o peso do tempo sem um desfecho? Os filhotes ficaram desesperados. Alguns roíam as unhas, outros olhavam para o céu, outros fechavam os olhos na esperança de que o tempo acelerasse no escuro. A selva, normalmente tão cheia de aventuras, se tornou um território de inquietação.

Até que um deles começou a cantar:

“Enquanto a resposta não chega 

O negócio é esperar

Parado o tempo não passa

O negócio é a gente brincar

De bola, peteca

Carrinho ou boneca

Enrola, enrola, enrola

Enrola o tempo

Mais um momento”

(Refrão 2x)

A lição era clara. Se a resposta não pode vir agora, que pelo menos o tempo passe de um jeito menos doloroso. A solução para a espera não é a ansiedade. Tampouco é a resignação. É o movimento. A distração. A leveza.

Essa é uma sabedoria que os adultos frequentemente esquecem. Crescemos e nos convencemos de que precisamos controlar tudo – e, quando não conseguimos, sofremos. Mas algumas coisas não estão sob nosso domínio. Não podemos antecipar a ligação do médico, nem a data do vestibular, nem a resposta do whatsapp da pessoa amada. 

Não podemos fazer o tempo correr mais rápido. Mas podemos enrolá-lo.

Os filhotes estavam certos. Se não há nada a fazer, que ao menos o tempo passe de um jeito mais agradável. Que possamos encontrar uma boa companhia, comer comida japonesa, entrar numa banca de gibis, contar histórias, rir um pouco, caminhar no sol. Que possamos, ao menos, brincar de peteca e conversar de boneca.

Que a sabedoria dos filhotes nos ensine a suportar as esperas. Óbvio, sempre que possível, que o Leão responda rápido e positivamente. Mas, enquanto isso, nos resta fazer o que aqueles filhotes descobriram antes de nós: enrolar o tempo, mais um momento.

Você já ouviu essa canção?

Ajude a  encontrar a música e autor. 

Desde que essa melodia entrou na minha memória infantil, nunca mais consegui encontrá-la. Já pesquisei na internet, busquei as palavras-chave, mas nunca encontrei. Talvez seja antiga demais, de uma época em que as coisas não ficavam armazenadas em catálogos digitais. Eu não lembro do nome da peça, do autor e da música.

Por isso, deixo aqui um pedido: compartilhem este texto com amigos, familiares e pessoas que possam ter vivido essa mesma lembrança. Quem sabe, em algum canto da internet ou no boca a boca das recordações, alguém se lembre do nome da música ou autor. 

Seria um grande presente poder agradecer a essa pessoa anônima que, sem saber, marcou minha infância e me ensinou algo que carrego até hoje. Se essa história chegar até o próprio autor, quero dizer: obrigado por essa pequena grande sabedoria.

E, enquanto esperamos encontrá-lo, seguimos enrolando o tempo, mais um momento.