O adjetivo não apenas descreve, ele julga, compromete.
— Eu sou João — disse Nome.
E por muito tempo, isso bastou. Nome é Nome. João é João. Mesa é Mesa. Nada mais se exige.
Então veio Verbo.
— João anda — disse Verbo.
João sentiu algo novo. Antes, ele não era nada. Agora ele faz algo.
Foi quando Adjetivo chegou.
— João é rápido.
Opa. João pensou. Não bastava mais apenas andar. Agora, ele é algo.
— João é impulsivo e triste — disse Adjetivo.
João franziu a testa. Nome é Nome, sem essência. Verbo, também. Mas agora recebeu um julgamento. Adjetivo o definiu.
— Eu não sou impulsivo! Ou triste! — protestou.
— Então, o que você é? — perguntou Adjetivo.
João olhou para Verbo.
— João pensa — tentou ajudar Verbo.
— João é indeciso — murmurou Adjetivo.
— Não sou não! — protestou João.
— Então, o que você é?
João percebeu que a vida não é feita apenas de nomes ou verbos. Nome apenas nomeia. João é João. Mesa é mesa. Nada mais se exige. Verbo apenas move. João anda. Mas Verbo não pesa, não cobra, não impõe significado.
Já Adjetivo não apenas descreve, ele julga. Ele delimita. Ele exige. Ser Adjetivo é se comprometer. Ele não apenas define quem somos, mas molda como nos sentimos e como somos vistos.
Ele cria identidade, mas também expectativa. Adjetivo não apenas descreve a mesa como frágil, mas nos faz tratá-la como algo que pode quebrar. Adjetivo não apenas chama alguém de inteligente ou burro, alegre ou triste, honesto ou impulsivo. Ele faz com que esperem mais sobre a pessoa: atitudes e decisões. Adjetivo tem peso para si e para o outro. Quem carrega um Adjetivo nunca passa despercebido. Ele é um risco.
Ser apenas Nome é simples. Nome apenas existe. Ser apenas Verbo é confortável. Verbo empurra para frente sem exigir significado. Mas ser Adjetivo… isso exige coragem.
João respirou fundo e respondeu.
— Eu sou João. E eu sou o que eu quiser ser.
Adjetivo sorriu.
E João, agora consciente do peso das palavras e seus significados, sorriu de volta.
Porque ele sabia:
Ser Nome é fácil. Ser Verbo é fácil. Quero ver ser Adjetivo.